sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Igreja e Novos Paradigmas Sociais.



Para início de conversa...
Terminei esta semana a leitura do livro "Diálogos Noturnos em Jerusalém", lançado pela editora Paulus no Brasil, e em minha opinião, um dos mais concisos e pertinentes ao momento que a Igreja vive hoje, depois da eleição do Cardeal Bergoglio ao papado. 

Um pouco de história...
Seu autor, o Cardeal Martini, é uma das mais importantes figuras do cenário eclesial contemporâneo. Inserido na tradição jesuíta, foi Arcebispo de Milão entre os anos de 1980 e 2002, e por muitos anos um forte candidato à sucessão papal. Ao completar 75 anos de idade, deixou a diocese de Milão e passou a morar na casa dos jesuítas em Jerusalém, considerada a “cidade do seu primeiro amor”.

O título do livro é bem sugestivo... 
Os diálogos são noturnos, pois “a noite é tempo de escuridão, da imaginação, de sentidos mais aguçados”. E o meio da noite já anuncia ao dia em seu momento virginal. 

Em tempos de “inverno eclesial”, Martini aponta o sonho de uma Igreja corajosa e ousada. 
O cardeal tem em seu horizonte o impulso profético que sinaliza o desafio de transmitir aos outros não as decepções da vida, mas os sonhos mais decisivos. E esses sonhos “nunca envelhecem”. Confessa, porém, que não alimenta hoje muitos sonhos ou esperanças numa Igreja jovem: 

“Aos 75 anos me decidi a rezar pela Igreja. Olho para o futuro (...). A utopia é importante. Só quando você tem uma visão é que o espírito o eleva acima de querelas mesquinhas”.

Igreja e Pós-modernidade...
"Acredito na possibilidade de uma Igreja mais sintonizada com o tempo, mais compreensiva e solidária com as dores reais das pessoas, uma Igreja mais disponível aos apelos dos jovens, mais integrada à realidade da vida. De forma corajosa, a hierarquia têm nas mãos o desafio eclesial de encontrar uma palavra nova para iluminar a reflexão dos cristãos quanto ao campo da sexualidade humana e da família."

“Se a Igreja usasse uma linguagem mais compreensiva, tenho certeza de que ela recuperaria a credibilidade das pessoas e a competência entre seus discursos e sua práxis."

A Igreja e os temas polêmicos da atualidade....
"A meu ver, a Igreja não pode de modo algum esperar tanto tempo para falar sobre os temas que tratam da vida e do amor com mais abertura. A Igreja não pode ter medo de abordar igualmente as questões candentes, como o celibato sacerdotal: 

"Em minha opinião nem todas as pessoas chamadas ao sacerdócio têm este carisma, e por isso, antevejo a possibilidade da ordenação de homens casados, “experimentados e confirmados na fé”, como um dos temas mais urgentes a serem tratados neste papado".

Igreja e a questão da Homossexualidade...
"Também creio que o homossexualismo, esta orientação tão antiga e presente na sociedade hoje, a meu ver, mereceria um tratamento mais sereno e humano por parte da Igreja. A Igreja deve trabalhar em favor de uma nova cultura da sexualidade e do relacionamento, e alimentar um profundo respeito à dignidade da pessoa humana, também no âmbito da sexualidade."

Igreja e Ecumenismo...
Em vários momentos do livro, o Cardeal Martini fala da importância do diálogo da Igreja com as diversas expressões religiosas e do desafio imprescindível de entrar no mundo do outro. 

As religiões têm, para ele, um papel essencial em nossos tempos: 

Todas as Igrejas, todas as religiões têm como objetivo fazer o bem neste mundo, tornar o mundo mais luminoso, e devem ajudar cada ser humano a encontrar sua pátria em Deus”. 

Igreja e abertura ante dos sinais dos tempos...
Não há como manter-se fechado e enclausurado no círculo estreito de uma única tradição. Há que se deixar surpreender por Deus, pois “o Espírito sopra onde quer” e o “estupor pode também conduzir-nos a Deus”. 

Igreja e proximidade ao povo...
Na visão de Martini, o desafio de ir ao encontro do outro, com atenção e delicadeza, traduz um dos caminhos que levam a Deus. Isso é viver verdadeiramente a abertura universal. Para superar a “estreiteza do coração” é necessário alargar as fronteiras:

“Não se pode fazer um Deus católico. Deus está além dos limites e das definições que estabelecemos. Precisamos de limites na vida, mas não podemos confundi-los com Deus, cujo coração é sempre maior”.


Diálogos Noturnos em Jerusalém
(sobre o risco da fé)
Editora Paulus, 2002.
Brasil

http://www.paulus.com.br/loja/dialogos-noturnos-em-jerusalem-sobre-o-risco-da-fe_p_782.html

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