sexta-feira, 5 de julho de 2013

Pensamentos sobre a Dor e a Loucura.




Todos nós podemos adoecer mentalmente. 
Não há ninguém na face da terra que não esteja sujeito a depressões, neuroses e até surtos psicóticos. Já vi e acompanhei pessoas empurradas pelo mundo até a fronteira do inferno que não suportaram as pressões da vida. 
Algumas foram internadas em clínicas psiquiátricas; outras se tornaram alcoólatras; muitas se viciaram em drogas tóxicas. Já me vi obrigado a enfrentar a dura realidade da depressão familiar. Uma amiga muito querida de nossa Igreja, sofrendo pela perda de seu namorado, tempos atrás acabou se suicidando, deixando amigos e familiares destroçados. 

Já presenciei o triunfo de algumas pessoas que resistiram aos embates existenciais da história. 
Notei que estes, mesmo cambaleantes, essas pessoas conseguiram retomar o controle de suas vidas. Quando me lembro deles, volto a crer no poder do companheirismo, da fé e da solidariedade que não nos deixa sozinhos. 

"As vezes imperceptível, Deus age no silêncio e cura nossas feridas de dentro para fora."

Hoje olho para trás e reconheço como tive de lutar para não ficar doido.
Gosto de lembrar que nossa humanidade é feita sombras e luzes. 
Somos ao mesmo tempo, excelentes e ordinários, pacientes e bons, mas noutros momentos somos intolerantes e maus. Carregamos um tesouro em vasos de argila..Quando eles se quebram, precisamos de uma habilidade e de uma sensibilidade diferentes para não deixarmos nosso carro atolar na estrada da vida...

"Entendi com minha pouca prática de escuta e acompanhamento de pessoas com problemas, que os neuróticos não conseguem conviver com essa realidade e passam a querer controlar suas sombras." 

Por mais que se esforcem, vez por outra, se surpreendem com erupções de um vulcão sombrio que dorme dentro deles. Eles então procuram compensar suas fragilidades fugindo para mundos irreais. Como não conseguem viver em paz com seus defeitos e sombras, tentam se mudar para dimensões fantasiosas. Aí então, surge a dependência do vício e na fantasia, que pode anestesiar dores profundas.

As neuroses se caracterizam quando comportamentos repetitivos significam tentativas de camuflar defeitos e problemas existenciais, tão próprios da nossa humanidade. 
O neurótico se esforça para evitar assumir que não é perfeito. Neurose significa não saber conviver com a realidade humana, que por sua própria natureza é precária, falível e defectível. 

Os psicóticos, por sua vez, tentam arrancar suas sombras. 
Eles não aceitam que possam existir defeitos e se recusam a encarar qualquer incoerência interior. Para não se defrontarem com a realidade, são mais radicais: amputam seus olhos e se permitem coisas que fogem aos padrões da normalidade aceitável. Assim, destituídos de toda capacidade de enxergar sua humanidade composta de belezas e feiúras, também não conseguem ver o mundo; eles enlouquecem porque se desligam completamente da vida. 

Assim, aprendi com meu pouco tempo de vida que os depressivos quando estão tristes pensam que o melhor remédio é dormir. Porque para eles, dormir significa esquecer daquele algo que poderia ter sido feito e ainda não aconteceu. Ou ainda lembrar nostalgicamente de um mundo que não se tornou realidade, uma mistura de saudade e desencanto com o presente... 

Em meus 35 anos de existência já vivi tristezas profundas. 
Minha alma já se contorceu de dores sinistras; já me vi cara a cara com o Diabo. Quase perdi meu equilíbrio, brios e vontade de viver. Não fossem alguns poucos amigos, não sei aonde chegaria meu desespero. E creio que todos nós passamos por essas crises. Absolutamente ninguém está livre do medo ou da dor que mora no escuro de nossa alma... 

Humildemente hoje, reconheço minhas fragilidades e não me considero um padrão de normalidade e de perfeição que algumas pessoas esperariam de mim. Pensando assim, sinto-me mais autêntico e mais pleno em minha luta pelo aperfeiçoamento a que todos somos convocados.

Desisti de encarnar o mito da perfeição. 
Agora, não me flagelo quando constato minhas vaidades e defeitos. Parei de me culpar quando me surpreendo com minha maldade, insegurança e narcisismo. Estou aprendendo a conviver comigo mesmo olhando no espelho de meus olhos. Não tenho medo de meus traumas, pois sei em quem coloquei minha esperança (2 Tim 1, 12).

Reconheço hoje que minha paz vem de saber que sou amado e querido por Deus, com minhas sombras e luzes. 
Nessa tarde de inverno, olho pela janela de meu quarto e reconheço que Ele está satisfeito comigo, mesmo conhecendo minha estrutura e sabendo que sou pó. 
Confio que Deus me quer bem e acima de tudo acredita e tem depositado sua esperança no pouco que lhe posso oferecer. 

Salamaleiko.
Vida que segue...

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