sexta-feira, 6 de maio de 2011

Passeio pelo imprevisível.


Um texto do Frei betto.

Apenas observando.
Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo...
a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: "Qual dos dois modelos produz felicidade?

Estamos construindo super-homens e super mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias!

Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação ao cuidado com os valores do espírito.
Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: "Como estava o defunto?". "Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!"


A propaganda afirma: se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro,você chega lá!

"A publicidade não consegue vender felicidade, então passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres."

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo o condicionamento.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, constrói-se um shopping-center. É curioso: a maioria dos shoppings-centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

"Na lógica do mercado pós moderno, quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Quem tem que pagar com cheque pré-datado, financiar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno..."

Felizmente, terminam todos na "ceia" pós-moderna", irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald...

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas:
"Estou apenas fazendo um passeio socrático". Diante de seus olhares espantados, explico: "Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores ávidos o assediavam, ele respondia:

"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz !"

Salamaleiko.

Um comentário:

  1. "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz "

    simplesmente, PERFEITO esse texto!

    Paz e bem...

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