No alvorecer desta manhã.

Amanha completo trinta e três anos...

a idade segundo o nosso costume popular católico, afirma ser “a idade de Cristo”.

Desde minha juventude imaginei minha vida sem muitos detalhes.

No bairro em que morava nunca precisei buscar um mundo distante do que sonhava para minha vida.

Nunca almejei o reconhecimento das pessoas mais poderosas ou influentes do que eu.

Contentava-me com o amor dos que me eram caros. Isso me encanta até hoje. De manhã, contento-me com pão e café com leite. No almoço, arroz e feijão com bife acebolado; no jantar, sempre tem um repeteco do que sobrou.

Não gosto de gastar dinheiro com roupas.

Minha calça jeans é barata. Nunca usei sapatos. Fico todo sem jeito numa roupa "social".

Meu viver se afasta das grandes rodas. Confesso que sou de poucos amigos.

Tenho poucas coisas pra contar.

Amo fotografias, paisagens em preto e branco, trilhas distantes, montes e estradas isoladas. Essas imagens falam por mim. sou nostálgico e tenho visões.

Converso com andarilhos neurastênicos. Sobrevejo extensões de mim nesses encontros.

Aprendi tardiamente que "contra fatos não há argumentos".

Sou parceiro de pessoas comuns.

Não tenho aptidão pra conquistar amizades superficiais.

Evito qualquer espécie de conflito por sentimentos.

Não aceito que me ponham rédeas afetivas. 

Detesto que tentem influenciar afetivamente nas minhas questões de "espaço, tempo e percurso". 

Sim, as vezes sou frio, apesar de simpático e afetivo na maior parte da vida.

Meu viver é árduo.

Convivo com dúvidas. Lido com desejos impossíveis. 

Meu viver é instigante. Vivo a refutar as minhas próprias conclusões e as vezes dou risada das minhas próprias certezas.

Gosto de descansar sozinho na beira do mar.

Sou vizinho dos andarilhos. Gosto de fotografá-los.

Não tenho apreço pelo convívio dos ricaços.

Sempre que estive entre eles, saí menor do que quando entrei.  

Meu viver é angustiado.

Não me conformo com a brevidade da vida.

Quero conhecer todas as trilhas, escalar todas as montanhas, mergulhar em todos os oceanos. Falta-me tempo para ler romances, para entender os mestres da filosofia, para degustar os melhores poetas, para meditar ao lado dos santos.

Quero viver, mas sei que é impossível impedir que a história impermeabilize minha vida de erros.

Contudo, meu viver é feliz. Aprendi a transformar cada refeição numa ceia sagrada.

Cada abraço se tornou para mim num pacto de amizade. Cada beijo, uma expressão de amor. Aprendi a rir de minhas idéias e a chorar com os que andam perdidos.

Meu futuro se enche de esperança.

Ainda tenho 33 anos e isso me conforta, pois sei que minha liberdade, conquistada a "duras penas " me é mais valiosa que qualquer amor humano.

Ando léguas para pagar o preço desta única existência.

Olho de lado e sorrio para quem me diz que minha felicidade é incompleta.

Sei que a frágil semente que venho plantando ainda há de se transformar em uma árvore bonita.

Creio profundamente no que meu coração e minha alma celebram.

Amo o sacerdócio de Jesus e o meu, continuação do “dele”.

Caso minha breve existência não brilhe como a luz do sol, descanso em ser um lampião que ilumina os olhos de alguns justos.

Sinto que acendi luz em alguns corações, e isso me deixa feliz.

Carrego no meu alforge coisas boas e ruins, mas sei em quem coloquei minha esperança e por isso não desanimo.

Estou certo que nesta nova fase, simplesmente:

"...o melhor ainda está por vir."

Frei Eduardo F. Melo

Teresópolis- RJ

15 de fevereiro de 2011.